Odeio o sistema hierárquico do meio científico brasileiro | opinião

Acredito que posso escrever esse ensaio por que tive a dupla experiência de estudar no exterior e também no Brasil: claro que minha experiência é algo meu, que deve ser comparada com a de outras pessoas para evitar generalizações erradas. Fica a seu cargo deixar sua experiência nos comentários! Este artigo é de teor fortemente opinativo! 💪❤😎

Resumindo esse artigo: odeio o sistema de poderes no Brasil, em especial na esfera do meio acadêmico, onde me afeta de forma mais direta. Em outro artigo, comentei da politização do meio acadêmico brasileiro e como isso me incomoda, agora quero comentar como a hierarquia me incomoda e como, na minha visão, isso pode matar a pesquisa brasileira, no melhor cenário, minar o progresso da mesma.

Quando penso nesse assunto, a primeira informação que me vem na cabeça é um livro que li chamado Outliers. O que chamou a minha atenção nesse livro é uma parte onde Malcolm Gladwell, autor do livro, comenta que na aviação, o Brasil é o primeiro na lista do Index Power Distance (PDI), ficando à frente da Coreia do Sul. Para mim isso veio com um certo espanto, mas depois que comecei a pensar melhor, não é assim tão surpresa. Lembra da expressão “olha com quem está falando?”? Parece que essa expressão surgiu na ditadura militar, e como o racismo, continua na nossa sociedade, de forma silencioso, de forma rasteira, e com novos nomes, roupagem. PDI mende o quão as pessoas subordinadas aceitam o distanciamento de poder.

Do site hofstede-insights:

“With a score of 69, Brazil reflects a society that believes hierarchy should be respected and inequalities amongst people are acceptable.”

Abaixo segue um gráfico do site hofstede-insights:

Fonte: https://www.hofstede-insights.com/country-comparison/brazil,italy,south-korea,the-usa/

Coloquei, por curiosidade, Itália, onde fiz meu mestrado e doutorado. Observe as barras azul-marinho (Brasil) e roxo (Itália); observe também que o Brasil lidera! Mesmo contra a Coreia do Sul (verde). Como sempre, dados podem ser interpretados de vários ângulos. Eu interpreto isso como algo ruim/péssimo, preocupante.

Mas o que isso tem haver com o meio acadêmico? Eu acredito que como na política, que menciono em outro artigo, isso está dentro do meio acadêmico, também um tumor que minar o meio acadêmico de dentro.

Pensamento de Conceição Evaristo. Fonte: Roda Vida.

Em um artigo da Folha de São Paulo, mostrou-se que o nível de depressão na pós-graduação no Brasil é muito alto; também pesquisas mostram que o Brasil é líder em termos de ansiedade na população. O que nos torna ansiosos? Medo do futuro! Quer medo maior do que um chefe que cria somente instabilidade e sabe somente achar os erros do outro? Esses chefes somente sobrevivem quando sua autoridade não é questionada, em organizações autoritárias.

Estou no meu segundo postdoc em uma instituição federal, como menciono em outro artigo, e posso te dizer, espero estar errado: nosso meio acadêmico é hierárquico cegamente. Havia notado isso levemente na graduação. Notei fortemente no meu primeiro mestrado no Brasil (UFRJ), que não terminei.

Eu lembro da seguinte frase que um colega de classe me falou antes de eu deixar o Brasil para fazer um novo mestrado: “algumas pessoas se dão bem lá fora”; eu estava afundando no mestrado, foi a primeira vez que academicamente ia tão mal. Na época, conseguia somente me culpar, agora tem algo externo que possa ter influenciado de forma definitiva: hierarquia cega e burra do meio acadêmico brasileiro. Lembro do autoritarismo dos professores, em especial um que me deu um “C”, tentei entender o porquê, não fazia sentido, mas quanto tentei falar com ele, recebi somente “patadas”; um colega levantou “racismo” por que sou moreno, mas eu não penso que foi o caso.

Eu não fico orgulhoso de escrever esse artigo devido à complexidade do assunto, mas existe algo de errado na forma como os pesquisadores/professores brasileiros tratam seus alunos/orientandos, que deveriam ser a próxima geração de pesquisadores; tenho lido e comparado, e acho problemático essa dinâmica de poderes: parece que professores veem seus alunos como “pedaços de equipamento”, onde a bolsa é o aluguel. Claro, muitos podem dizer que está tudo bem, mas não penso dessa forma, e esperei anos para formar essa opinião, posso estar errada devido à complexidade do assunto, mas tenho fortes evidências pessoais para reforçar meu ponto de vista.

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Troca de experiência: fiz estágio em uma universidade brasileira, focado em ciência da computação, somente havia uma mulher no laboratório.

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